quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Correr no meu tempo

 
Digamos que voltar para aos Açores teve alguns - grandes - feitos. Acredito que o maior de todos tenha sido começar a C-O-R-R-E-R. (É bastante notório, só pelo espanto que as minhas amigas de infância têm quando digo que agora corro: "No way!!!!!!!!") Eu sempre fui aquela adolescente que o maior terror na sua vida escolar era o professor de educação física, piorava quando este iniciava uma aula com um aquecimento de 10 m. a correr à volta do pavilhão.
O facto é que, depois de velha (atenção ainda não cheguei aos 30), me converti e vejo algumas vantagens físico-psicológicas de correr. (Mas vivo isso de uma forma muito saudável e equilibrada.) 
Estava decidida, era simples, ir à Sport Zone comprar uma lanterna (depois disto AQUI precisava de uma), ver um casaco com refletores e mais nada, tempo máximo previsto para este objectivo: 5 minutos.
Todavia o simples tornou-se complicado, porque ao entrar na Sport Zone percebi que entrava num mundo, num mundo de gente obcecada por desporto, num mundo ofuscado pelo culto ao corpo. Eu sei que é importante sermos saudáveis, magros e giros, como é importante o estilo e o cuidado com o que metemos no estomago, mas mais importante ainda é sermos, bons, felizes, inteligentes e o cuidado com o que metemos no coração... (cliché, admito!)
Os corredores pareciam labirintos, as prateleiras estavam rochedos das mais mil e uma coisas para a corrida, é admirável a originalidade destes fazedores de marca. Já não é somente moda correr, é quase obrigatório para se obter uma certa notoriedade na sociedade.
Há todo um culto desta malta que pratica a corrida, até usam um vocabulário próprio, com incidência nas expressões anglo-saxónicas: "trail"; "running"; "training plan"; "sprint"... No meu tempo a gente corria e já tá.
Na Sport Zone, percebi que existem máquinas que medem o tipo de massa muscular, que pesam a tua força, que te indicam que tipo de roupa podes e deves usar, é incrível, no meu tempo era a minha mãe que me escolhia e dava opinião sobre a roupa e não precisávamos de mais nada... 
Há literalmente uma centena de sapatilhas para a corrida: umas para trilhos mais selvagens, outras para a cidade, outras que são um misto, outras para o pavimento do estádio e outras para um terreno com pedras ou com mais ou menos pedras.... No meu tempo as sapatilhas eram todas normais e multifacetadas, serviam para as aulas de educação física, para o recreio, para os piqueniques só não davam para ir à Missa.
Deparei-me também com kits para medir a tensão, para medir os batimentos cardíacos, para contar os passos, para contar as calorias, para contar os km ou os km que fazes por minutos, como as centenas de aplicações para mostrarem aos amigos o que corremos e no fim ainda dá para tirar uma selfie. No meu tempo levávamos um pau para afastar os cães (se fossemos ao Monte Brasil) e tirávamos o relógio porque era o único que tínhamos, durante qualquer desporto havia uma grande probabilidade de queda.
Em relação às t-shirts, é surpreendente, se há coisa que evoluiu na ciência e na tecnologia humana são os vários tecidos com que são feitos as t-shirts de corrida, até existem tecidos que enquanto corres fazem-te perder as gorduras. No meu tempo usávamos uma t-shirt que normalmente fazia publicidade a qualquer coisa.
Outro utensilio bastante comum, são aqueles calções de licras que se usam debaixo dos calções normais, ou aquelas ligas que se metem nos joelhos, nas pernas e nos braços tal como as fitas de várias cores que se colam na pele, acho que a maior parte das pessoas não deve saber para que servem, mas sem duvida dá um certo estilo e profissionalismo na corrida. No meu tempo tínhamos um fato-de-treino comprado na loja americana da base das Lajes, ou na Loja d'Alice, sempre no ton de cinzento e feito de algodão, que normalmente era da marca Fruit of the Loom (para quem não conhece pode clicar aqui).
Por fim, há toda uma circunstância a cerca da musica, porque para correr a sério tens de levar o teu iphone agarrado ao braço, com uma capa transparente, anti-tranpirante, anti-queda e anti-chuva. Acredito que deve haver listas no spotify da malta das corridas... No meu tempo o nosso walkman não dava muito jeito, nem podíamos mudar assim as musicas das cassetes, tal como o discman, pois este se fosse connosco a uma corrida riscava o CD.
Contudo se há coisa que me faz confusão no outfit, de um corredor urbano e in, é a questão das mulheres correrem em sutiã... Eu aceito os homens depilados, eu aceito as fitas nas cabeças, os homens de leggin's, mas não sei  qual é a vantagem de correr com um top, que no meu tempo chamávamos sutiã? É para deixar os senhores a olharem ou é para meter inveja às outras mulheres que não tem aquela barriga maravilhosa?
 
Confesso que admiro aquela força de vontade, como o espirito de competição de um corredor, pois um atleta urbano é rigoroso no seu horário, como diligente nas suas aspirações, mas saí da Sport Zone passado uns longos minutos, sem compras, nem  lanterna nem casaco, perdi-me no meio da complexa trivialidade de correr...

Sem comentários: