quinta-feira, 25 de junho de 2015

Diário de uma Açoriana (Parte #II): Sanjoaninas

Se há coisa que eu gosto são das festas populares, gosto de comer numa tasquinha, gosto do ar tosco das mesas, das toalhas de quadrados vermelhos, das folhas de cryptomeria espalhadas pelo chão, gosto da cerveja servida ao jarro, gosto de dançar a musica pimba até ficar de manhã.
 
Este gosto devo muito à minha açorianidade, ao espirito de festa que está emprenhado em nós ilhéus, quem nasce aqui, quem vive aqui, sabe que não precisa de muito para fazer uma grande festa: só 2/3 amigos, umas cervejinhas e uma morcela bem frita! Por isso nestas alturas os emigrantes não hesitam em voltar.
 
Vou explicar a razão de nunca mais ter escrito no blog....
Estes dias tem sido assim: festa.
As festas em honra do Divino Espirito Santo ainda nem acabaram e já começam as Sanjoaninas
O São João em Angra do Heroísmo chama-se Sanjoaninas e não basta ser só o dia 24, basta só que o dia 24 seja feriado, são 10 dias de festa e muitos dias de preparação. Fecham-se as ruas, iluminam-se e decoram-se com flores... ouve-se a musica, as filarmónicas saem à rua e dançam o pézinho.
Estive uns 9 anos pró continente, mas tentei  levar sempre comigo este espirito de festa da minha da ilha Terceira, confesso que houve momentos que esqueci como é tão bom este ambiente.
Os nossos vizinhos, da ilha de São Miguel (que é a maior ilha dos Açores, digamos é a nossa grande rival), costumam dizer que "os Açores são 8 ilhas e um parque de diversões", que somos nós os terceirenses. Esta piada não me ofende, porque o certo é que estes micaelenses fizeram uma marcha, de propósito para marcharem na nossa Angra: a Marcha dos Coriscos  e ainda tiveram 1 semana de tolerância de ponto, sim 1 semana!
 
Já estamos cheios de turistas, de gentes de outras ilhas e sobretudo dos nossos queridos emigrantes das américas (nestes dias só ouço, nas ruas da cidade aquele inglês americanado com expressões açorianas… tipo: “wei rapazinho what do you think you do?” )

Estas festas, vividas com tanta intensidade, são consideradas as maiores festas dos Açores, o número de voos e de barcos aumentaram verdadeiramente, e o povo, com pelo menos uma semana de antecedência, vai metendo cadeiras no meio da rua da Sé, querem guardar lugar para os desfiles e para as marchas, (imaginem lá isso na avenida de liberdade!) atenção ninguém mexe nas cadeiras dos outros.
 
No dia de São João para além da grande tourada de praça em honra do santo, há a tourada de rua, que é umas das principais touradas de ruas, conhecida como a Espera de Gado. É a única tourada que os touros vão sem corda, tornando-se numa largada de touros. Para além dos estragos, é uma grande confusão arrumar os touros e leva-los para o campo, muitas vezes têm que se chamar os pastores ou as vacas, o que torna a rua um verdadeiro campo de batalha rural!
 
Este ano, como manda a tradição as marchas não foram poucas: 26: começamos a marchar às 21h e acabamos por volta das 3h30/4h claro que eu marquei presença na marcha do voluntário. Aqui não há concurso de marchas, mas há muita imaginação, distribuíram whisky, bifanas, havia marchas com grandes guarda roupas, outras mais simples, marchas que saltavam e lutavam, e até houve a marcha com os doentes da casa de saúde, integrando todos em tudo... ainda há aqueles que vão atrás das marchas e fazem a festa toda... Desta forma juntam-se milhares de pessoas na rua.
Depois segue-se o bailarico, as fogueiras, as sardinhas assadas e a musica ouve-se até de manhã, quem chega a casa antes das 7h é menino.
 
Esta é a noite mais longa da minha ilha, é uma noite que reúne gerações, uma noite que pode haver alguns excessos, mas numa maneira geral o espirito é sã, são as famílias que estão na rua, é uma festa verdadeiramente popular.
E se há coisa que eu gosto são das festas populares...
 
PS: (só para meter inveja) hoje vou ao concerto do José Cid!
 
Angra ao amanhecer - noite de São João
 


 
 

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