quinta-feira, 7 de março de 2013

Do Amor e da dor

No ocaso da vida seremos julgados pelo amor, diz-nos S. João da Cruz.

No dia em que fazia um mês do seu aniversário, o Padre José Afonso partiu.
Se, por um lado, a certeza de que Deus é Pai nos anima, conforta e ampara, por outro a ausência humana inesperada deixa-nos em choque, numa dor silenciosa.
Era um amigo. De sempre. Que acompanhava a tantos, e a nós também.
Que administrou os sacramentos ao meu avô paterno durante sete anos. Que administrou os mesmos sacramentos à minha tia, antes de morrer.
Que esteve presente, comovido, no nosso Matrimónio, cuja cerimónia concelebrou.
Que benzeu a nossa casa com a solenidade de um sacerdote e o amor de um amigo.
Que baptizou a nossa filha.
Que tanto fez por nós!
Que viria a nossa casa em breve, já tínhamos um Cartuxa à sua espera, vinho da sua terra natal, e que muito apreciava.
Não se esquecia de nenhuma data festiva e fazia questão de nos felicitar, sempre, com palavras, gestos, de amizade sincera e genuína.
Faltámos-lhe nós há um mês, e não lhe demos os parabéns como devíamos. Um pormenor irrelevante, motivado pela desorganização do quotidiano, mas que agora tem um sabor amargo.

Rezámos por ele, é certo, mas não é a mesma coisa. As palavras têm que ser ditas. Dizer às pessoas o quanto gostamos delas, o quanto agradecemos a bênção que é as suas vidas. Ficou isto por dizer, da nossa parte. Sabia, sem dúvida, mas menosprezámos a força do verbo.

Adormeço e acordo repetindo para mim mesma que nunca mais voltaremos ao Oratório para as missas com o Padre Guedes. Uma sensação tão estranha, que pede esta repetição mental, para me habituar à ideia de que não vamos ouvir mais a sua voz, que tenho tão presente, as suas graças, as suas prédicas acertadas. Temos ainda as suas mensagens nos nossos telemóveis, os seus mails. Era o nosso Padre Guedes, e nada disto faz sentido. Nada-disto-faz-sentido.



Há poucos dias, no 11º aniversário do meu irmão mais novo, sabendo da paixão pelo futebol, e em particular, pelo Benfica, ofereceu-lhe uma bola autografada por um dos grandes jogadores do clube.

Escusado será dizer que foi o melhor presente que o meu irmão poderia ter recebido naquele dia. Mas não o melhor daquele sacerdote. O melhor, para o meu irmão e para todos nós, foi mesmo o dom da sua vida e o amor que tinha pelo rebanho que lhe foi confiado. Obrigada, querido, queridíssimo, e muito amado Padre Guedes!

Peço a Deus Pai que não nos falte a Fé neste momento de dor e incompreensão. E à Mãe do Céu que o acolha no seu regaço terno, para que participe e goze das maravilhas da verdadeira Vida em Deus.

No ocaso da vida seremos julgados pelo amor. Deus é Amor e quem n'Ele viveu, n'Ele permanecerá. 

Disto não há dúvidas.

No nosso Casamento.

1 comentário:

Unknown disse...

Querida,
Que texto tão bonito!!
Lembro me sempre do.bilhete de boas vindas q escrevemos ao Pe. Guedes no seu primeiro dia de.capelania no colégio.. Fomos as duas entregar-lho!éramos tão pequeninas.
Bjs