sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Maria Sofia

Foi há um ano que a nossa Xana entrou neste projecto do HEart (como o tempo passa rápido!!!), mas também foi há um ano que morreu uma senhora chamada Maria Sofia.


Vou vos falar da Maria Sofia.
Não é que a sua vida tenha tido coisas extraordinárias, mas foi uma vida bonita!
Só falei uma vez com a Maria Sofia, e isso bastou-me para perceber que era uma grande mulher! Uma senhora com uma educação tão simples e ao mesmo tempo tão requintada (como é tão apreciada a humildade), pois era de uma delicadeza a falar que tornava quotidiano e normal  tudo o que tinha feito de grandioso, de aventuroso.
Descobriu a sua vocação a ler um livro.
E tal como os descobridores portugueses, que embarcavam em viagens pelo desconhecido, sem saber se iriam encontrar dragões, assim fez a Maria Sofia, mas fez com a sua vida. 
E naquela tarde de verão, numa casa em Sintra, enquanto eu ouvi a história da sua viagem pelos mares descobertos  lembrei-me que existem pessoas que estão à nossa volta, e até passam despercebidas mas que são o sujeito deste poema (dos meus preferidos!):


Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
Sophia Mello de Breyner