sábado, 3 de novembro de 2012

Dear Índia,

Ontem foi dia de me lembrar de ti. 
Acho que há um dia por mês reservado especialmente para isso. Lembrei-me das tuas cores, sempre corada, dos teus comboios, das tuas pessoas. Pensei onde estariam as miúdas a quem demos aulas de inglês. Ou o condutor do tuc-tuc que decorou o nome do L durante 3 dias. Para ter a certeza que nos levava a todos os lugares mal nos visse. Lembrei-me de lhe ter dito que o L se chamava Parvo e que durante 3 dias gritou o seu "nome" pelas ruas de Amritsar sempre que o via. Lembrei-me quando recusámos ser levados por um escravo-de-bicicletas-que-transporta-seres-humanos, invertemos o jogo, e fomos nós a guiar a bicicleta desse homem enquanto ele se deliciava no banco dos passageiros. Lembrei-me de ter saído do comboio a meio de uma viagem de 32 horas, para comprar bananas e água, e quando olhei outra vez, este já tinha partido. Estava no meio de ti, sem conseguir sequer pronunciar o nome da tua vila. Lembrei-me de ver famílias inteiras a dormir no chão, nos passeios, nas ruas. E de me querer deitar ao seu lado em vez de estar numa cama, com colchão e sem baratas. Lembrei-me de voltar a ti pela segunda vez, querer fugir a sete, dez, vinte pés e ter demorado uma semana a digerir que estava de volta. Estava de volta. Lembrei-me de ser perseguida por 500 muçulmanos e da minha sorte ter sido não procurarem atrás daquele carro branco estacionado. Ia ser frita e servida para o jantar. Pensei nos passeios de barco pelo rio em Allepey e de ter pensado que o paraíso era de certeza mais bonito mas muito parecido. Quase igual. Lembrei-me das duas primeiras baratas gordas que matei, precisão milimétrica, sorte de principiante. Lembrei-me do calor, húmido, do frio. Das músicas. De Bollywood. Do deserto. Do Ganges. Das manas. Lembrei-me dos espanhóis, ingleses, chineses, africanos e americanos. Das mulheres corajosas que andavam a viajar sozinhas. Lembrei-me dos crepes feitos no chão que nos arruinavam o estômago mas que nos faziam voltar todos os dias para mais dois. Da comida non-spicy que fazia chorar de tão picante e do quanto ficámos a gostar de chinês.

Lembrei-me de tudo. E fiquei com uma vontade enorme de te voltar a ver.
Mas isso já tu sabias.

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