quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Não perguntes porquê, mas para quê...

Ontem fui ao hospital, não era nada de especial, mas precisei de ir ao hospital e fui ao hospital. 
O bom de precisar de ir ao hospital é que apercebemos daquilo que é óbvio, que os amigos são das coisas mais importantes desta vida, que esperam connosco pacientemente, mais de 4 horas, numa sala que se chama "espera", e ali fazem companhia, conseguindo a proeza de nos distrair, e de nos tirar daquele sitio... (podia escrever muito sobre a amizade com este exemplo!)
Mas essas 4 horas numa sala de espera improvisada nas obras do Santa Maria deu-me para muita coisa, essencialmente para perceber que o estado da saúde em Portugal é um reflexo de uma degradação moral. É desumana a forma como os doentes são tratados, não falo por mim, que não gosto de me queixar, mas falo por aquela senhora acamada, mais velha que a minha avó, com um olhar poderoso, nitidamente estava nos últimos dias da sua passagem por este desterro, ali numa cama, numa sala de espera rodeada de barulhos e de muita gente, mas  ali estava sozinha, e quando dirigiam-se a ela (enfermeiros e auxiliares), falavam de um modo tão brusco como a própria senhora tivesse a culpa de estar doente. Falo também por aquele rapaz, um pouco mais velho do que eu, que lia enquanto esperava, era toxicodependente, mas não parecia, de repente descobre que tem uma infecção nos pulmões, meteram-no numa maca, para ficar internado, e enquanto se discutia quem o levava para o piso de cima o rapaz começou a chorar, sem ninguém dar por isso as lágrimas caiam silenciosamente, como silenciosamente lhe tinha passado a vida. Outro caso de um senhor que já estava senil e acamado, que não largava a mão da mulher, aquela pobre senhora, que outro dia tinha casado com o jovem senhor, mas via-se igualmente apaixonada, pois estava persistentemente ali desde as 3h da tarde (eram já 23h) sem ninguém dar a atenção suficiente....
As camas acumulavam-se nos corredores, tudo porque as ambulâncias não trabalham numa forma humana, mas trabalham numa forma rentável!
Eu percebo que esta área tem um trato difícil, um trabalho com uma entrega especial, mas não podemos esquecer que são seres humanos e não números, e não senhas e não pulseiras, são pessoas, almas, pais, mães.... cada médico, cada enfermeiro  cada auxiliar mais do que formação académica deve ter uma forte formação humana (QUE FALTA FAZ!), não pode cair na rotina, não pode habituar-se ao sofrimento, tem de tratar cada doente como fosse o primeiro, ou melhor como fosse ele próprio.
A maior lição que tirei desta sala de espera, é que a existência do sofrimento não é em vão...
Depois de uma injecção, soro (+ remédio) fui embora, sem dores mas com uma grande dor!

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