segunda-feira, 29 de outubro de 2012

9 p.m.

Andavam à procura do carro pelas ruas de Lisboa. Encontros e desencontros labirínticos da Baixa. Finalmente começavam a subir a rua que lhes parecia familiar, e sim, já se via a matrícula do carro: 61-DJ-13. De repente, estalou a bomba e começou uma gritaria na rua. Não era certo de onde vinha mas à medida que se encaminhavam para o carro, iam-se aproximando da fonte. 'Já viste o que fizeste? Belo serviço!', 'Assim mais vale ficares quietinho, falta de jeito e de cuidado', 'Olha para o que fizeste! Vê bem. Já viste? Então vê outra vez', 'Que falta de paciência, mais vale não te ofereceres para ajudar em nada'. E continuava. A elas, passava-lhes tudo pela cabeça. De certeza que tinha acontecido alguma coisa grave, mesmo grave. A gritaria era tal que começavam a assomar à janela os primeiros vizinhos. Às tantas, pararam as duas. Chegavam ao pé da fonte de tudo aquilo. Olharam para o Senhor Tenor e para a causa da sua indignação. Havia morangos pelo chão e um miúdo com 3/4 anos a olhar para eles, em pânico. O irmão mais pequenino imitava-o. E o pai continuava. E pensaram em tudo: que a crise tinha destas coisas e que talvez os morangos pelo chão fossem um desperdício que justificava tudo aquilo, que o pai devia ter tido um dia cansativo (Domingo..), que, que, que. Que nada justificava. E ficaram as duas com uma enorme vontade de ter filhos, aqueles dois filhos. E enchê-los de beijinhos e mimos. E rirem dos morangos no chão. E dizer-lhes que aquilo não passava de um sonho mau.

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